Adotar uma dieta saudável traz inúmeros benefícios à saúde, mesmo que não haja redução de peso. É o que aponta uma pesquisa publicada recentemente no European Journal of Preventive Cardiology e conduzida por pesquisadores da Universidade Ben Gurion, em Israel.
Participaram do estudo 761 adultos que haviam seguido uma alimentação considerada saudável num período de 18 a 24 meses. Entre os modelos alimentares estavam dietas com menos gordura, carboidratos e a Dieta Mediterrânea, por exemplo.
Do total de voluntários, 36% perderam peso de forma significativa, outros 36% tiveram uma redução moderada e quase um terço (28%) não observou alterações na balança.
Ainda assim, todos apresentaram mudanças metabólicas benéficas, como queda da pressão arterial, aumento do colesterol HDL (conhecido como colesterol “bom”), redução das taxas de triglicérides e de insulina, queda nos níveis de leptina (favorecendo uma regulação mais eficiente de fome e saciedade) e melhora das enzimas hepáticas, com efeitos positivos na função do fígado e na saúde cardiovascular.
“Alimentação saudável não é, e nunca foi, só sobre emagrecer. É sobre saúde, qualidade de vida e bem-estar, em qualquer peso”, pontua a nutricionista Serena del Favero, do Einstein Hospital Israelita. “Infelizmente, muitas pessoas ainda enxergam o emagrecimento como o principal, ou até único, sinal de que uma alimentação saudável está ‘funcionando’. E isso é um grande problema.”
Segundo a especialista, nossa sociedade foi condicionada a associar saúde exclusivamente a um corpo magro. “Por décadas, o peso foi usado como principal (e muitas vezes único) indicador de sucesso em planos alimentares — tanto por parte da sociedade quanto por muitos profissionais da saúde”, avalia del Favero.
No entanto, a melhora nos parâmetros metabólicos por si só já reduz o risco de doenças crônicas, mesmo que o peso permaneça um pouco acima do ideal.
“É possível estar com o peso levemente elevado e, ainda assim, estar metabolicamente saudável, desde que esses marcadores estejam bem controlados. Essa perspectiva é importante porque coloca o foco na saúde e não apenas no número da balança”, explica a nutricionista.
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Pequenas mudanças no estilo de vida, como melhorar a alimentação e praticar atividade física, já promovem benefícios reais e mensuráveis à saúde, mesmo sem um emagrecimento expressivo.
E há cada vez mais evidências de que os benefícios de uma alimentação equilibrada não se reduzem ao peso da balança. Além da melhora da saúde metabólica, esse hábito está associado a mais disposição, melhora da qualidade do sono, da saúde intestinal e da imunidade, entre outros aspectos.
“Quando focamos apenas no peso, corremos o risco de desvalorizar todos esses ganhos e até de abandonar estratégias eficazes simplesmente porque não houve uma redução numérica imediata”, alerta a nutricionista do Einstein.
No entanto, vale lembrar que embora seja possível melhorar marcadores metabólicos, o sobrepeso e a obesidade estão associados, a longo prazo, a um risco aumentado de doenças crônicas como diabetes tipo 2, males cardiovasculares, apneia do sono, alguns tipos de câncer e problemas osteoarticulares.
Por isso, é preciso buscar manter um corpo saudável. “Mas a forma dessa busca faz toda a diferença. Estratégias baseadas em dietas extremamente restritivas, com foco exclusivo em estética ou metas irreais tendem a ser insustentáveis e prejudiciais”, observa Serena del Favero. “Por outro lado, quando a perda de peso é conduzida de maneira gradual, com alimentação equilibrada, atividade física e suporte profissional, os resultados são mais duradouros e benéficos à saúde global.”
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