Durante depoimento na CPI do Rio Melchior, da Câmara Legislativa (CLDF), nesta quinta-feira (28/8), o professor do Departamento de Engenharia Ambiental da Universidade de Brasília (UnB), Sérgio Koide, criticou argumentos usados pela Termo Norte em defesa da criação de uma Termoelétrica em Brasília e disse que, em caso de instalação, a empresa deveria usar água de poços artesianos.
“Eles dizem que vão captar água de qualidade ruim, passar por todo o processo e devolver ao rio com resfriamento apenas 1ºC acima da temperatura natural. Me parece contraditório. Se devolvem com temperatura praticamente a mesma e com qualidade superior, porque eles não reutilizam a água [de um poço]?”, questionou o engenheiro.
Para o professor, o correto seria que o Rio Melchior não fosse incomodado: “[A água] teria que ser [captada por meio de] circuito fechado, com captação zero e lançamento zero [no Rio Melchior]”.
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Durante fala, o especialista defendeu, ainda, a necessidade de repensar a classificação do Melchior, hoje definida em nível 4. Para ele, estabelecer esse critério, “é um grande atrativo para poluidores”.
Conforme relatou o engenheiro, é preciso que seja feito planejamento de médio a longo prazo do Melchior, com monitoramento constante das águas do rio. “O que envolve não apenas a análise de despejos de grandes poluidores, que é outro problema que também precisa ser melhor controlado”, declarou.
Crime ambiental
Localizado entre Samambaia e Ceilândia, o Rio Melchior foi classificado na Classe 4 em nível de poluição – o pior na graduação de alarme ambiental. A definição impede o contato humano com as águas, bem como as práticas de pesca ou irrigação com esse recurso hídrico.
Em agosto de 2024, moradores de áreas próximas ao rio disseram ao Metrópoles que os habitantes da região têm adoecido com frequência. Eles acreditam que a situação é decorrente da poluição do rio.
Em 2024, a empresa Hydros Soluções Ambientais Ltda foi multada em R$ 51.151,45 pela Secretaria do Meio Ambiente do Distrito Federal (Sema) por despejar efluentes no rio de forma irregular e “em qualidade inadequada” – sem o devido tratamento.
Apesar de ter sido sugerida em 2023, o requerimento para abertura da CPI do Rio Melchior entrou em uma fila junto ao de outras comissões de inquérito e só recebeu sinal verde há pouco mais de um mês, em 18 de fevereiro de 2025.