Nem todos os corpos lidam da mesma forma com a longevidade. Embora cada vez mais pessoas cheguem aos 90 ou aos 100 anos ativas e lúcidas, o envelhecimento ainda causa uma série de fragilidades físicas e mentais em pessoas mesmo antes dos 80 anos.
Para entender por que o envelhecimento atinge as pessoas de forma tão diversa, pesquisadores da Universidade do Colorado em Boulder, nos Estados Unidos, decidiram olhar a genética dos cerca de 500 mil participantes do UK Biobank.
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O novo estudo, publicado na revista Nature Genetics nesta sexta-feira (22/8), reuniu informações de DNA e saúde de centenas dos voluntários. O trabalho identificou 408 genes associados a formas distintas de envelhecimento pouco saudável. Até então, apenas 37 genes tinham sido mapeados.
Os cientistas descrevem seis caminhos principais ligados à fragilidade: declínio cognitivo, problemas metabólicos, múltiplas doenças, deficiência física, isolamento social e estilo de vida pouco saudável. Cada rota tem biologia própria e não pode ser explicada por um único marcador.
Fatores que ajudam a ter um envelhecimento saudável
- Manter laços sociais ativos.
- Exercícios regulares.
- Cuide da alimentação.
- Ter um propósito de vida.
- Dormir 7 horas por noite.
- Exercitar o raciocínio.
- Evitar cigarro e excesso de álcool
- Faça consultas médicas regulares.
Envelhecimento redefinido pela genética
A pesquisa focou em analisar marcadores de fragilidade associados ao envelhecimento e suas possíveis origens ou manifestações na genética dos participantes.
A fragilidade é um estado clínico caracterizado pelo declínio de múltiplos sistemas do corpo, resultando em maior vulnerabilidade a doenças, quedas e estresse, com risco ampliado de hospitalização e morte. Estima-se que mais de 40% dos adultos americanos acima de 65 anos sejam classificados como frágeis.
Médicos usam um índice de 30 itens, que inclui velocidade da caminhada, força muscular e número de doenças diagnosticadas para determinar a situação do idoso. O problema é que diferentes combinações levam a escores semelhantes, sem distinguir a origem da fragilidade.
“Envelhecer não é uma coisa só. Há muitas maneiras de ser frágil. Duas pessoas podem obter a mesma pontuação alta de fragilidade, mesmo que uma tenha boa capacidade cognitiva, mas não consiga andar, e outra tenha boa saúde física, mas tenha memória fraca”, explica Isabelle Foote, primeira autora do artigo.
Genes ligados a trajetórias específicas
A análise genética mostrou que diferentes genes explicam trajetórias distintas de envelhecimento. Um exemplo é o gene SP1, associado tanto à imunidade quanto ao Alzheimer. Ele parece estar fortemente ligado ao subtipo de fragilidade cognitiva. Outro é o gene FTO, já relacionado à obesidade, que influenciou múltiplas categorias de envelhecimento físico.
Foote explica que esse mapeamento amplia a hipótese da gerociência. A ideia central é que, para tratar doenças ligadas à idade, é preciso tratar o próprio envelhecimento e seus fatores genéticos distintos. Isso abre caminho para intervenções direcionadas a cada subtipo em vez de estratégias universais.
O próximo passo clínico
No curto prazo, os autores defendem que os resultados genéticos mostrem ajustes nas medições de fragilidade. A proposta é que médicos avaliem não apenas a pontuação geral da fragilidade, mas também os subtipos específicos manifestados.
Assim, pessoas com fragilidade cognitiva poderiam receber terapias preventivas para demência. Já aquelas com fragilidade metabólica poderiam adotar intervenções contra diabetes e doenças cardiovasculares.
Segundo Foote, no futuro poderá ser oferecida uma “pontuação de risco poligênico de envelhecimento”. Esse indicador apontaria a probabilidade de cada indivíduo desenvolver formas específicas de envelhecimento pouco saudável.
A busca por terapias antienvelhecimento
O grande objetivo, afirmam os autores, é identificar rotas moleculares que aceleram a idade biológica e desenvolver drogas para bloqueá-las. A ideia de uma única pílula antienvelhecimento, porém, não parece viável.
O professor Andrew Grotzinger, autor sênior da pesquisa, diz que talvez seja possível criar tratamentos específicos para grupos de problemas. Um medicamento poderia focar no metabolismo e outro em funções cognitivas, por exemplo.
“Provavelmente não haverá uma única pílula mágica para o envelhecimento, mas talvez não seja preciso haver centenas”, disse Grotzinger. Para ele, o avanço mais concreto está em enxergar o envelhecimento como um conjunto de processos distintos e focar nos que são mais acentuados.
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