Nessa quarta-feira (8/10,) quatro pessoas da mesma família foram internadas em estado grave depois de comerem uma planta tóxica conhecida como “falsa couve” na zona rural de Patrocínio, no Alto Paranaíba (MG). O grupo preparou a espécie no almoço, acreditando se tratar de couve comum.
Segundo o Corpo de Bombeiros, pouco depois da refeição, as vítimas começaram a apresentar sintomas como fraqueza muscular, dormência nas pernas, mal-estar e dificuldade para respirar. Uma mulher de 37 anos chegou a sofrer uma parada cardiorrespiratória e precisou ser reanimada antes de ser levada ao pronto-socorro.
Os outros três adultos, homens de 49, 60 e 67 anos, também foram socorridos em estado grave pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Uma criança que estava com a família foi encaminhada ao hospital apenas para observação, já que não chegou a ingerir o alimento.
O que é a “falsa couve”?
A Nicotiana glauca é parente próxima do tabaco e pertence à família Solanaceae, que também inclui batata, tomate, pimenta e berinjela.
“Apesar de existirem várias plantas comestíveis nessa família, muitas espécies são extremamente tóxicas, como a beladona e a mandrágora. A Nicotiana glauca é chamada de falsa-couve devido à semelhança das folhas com as da couve verdadeira”, explica o biólogo Guilherme Ceolin, professor da UFSM-FW.
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Ele detalha algumas diferenças que podem ajudar a evitar confusão. “As folhas da couve são maiores, mais largas, de um verde mais escuro e com nervuras centrais mais marcadas. Já a falsa-couve tem folhas mais lisas e nervuras menos destacadas”, diz.
Mesmo assim, folhas jovens de couve podem ser facilmente confundidas com a falsa-couve por quem não está acostumado a lidar com plantas.
Substâncias tóxicas e riscos à saúde
A planta contém anabazina, uma substância que bloqueia a transmissão nervosa e causa sintomas graves, de acordo com a biomédica toxicologista Ingrid Dragan, membro da Sociedade Brasileira de Ciência e Tecnologia para Redução de Danos (SBRed).
“Ela causa paralisia muscular, dificuldade para respirar, alterações na visão, salivação excessiva, vômitos, confusão mental e aumento da frequência cardíaca. A intoxicação pode evoluir para morte por paralisia respiratória, dependendo da quantidade ingerida”, alerta.
A toxicologista reforça que a gravidade dos sintomas está diretamente relacionada à quantidade de planta consumida e que o risco é real.
“É uma intoxicação extremamente grave e não há tratamento caseiro seguro. Nem leite, nem vômitos induzidos resolvem o problema. A pessoa deve ser levada imediatamente ao pronto-socorro”, afirma.
É possível identificar essas plantas?
A especialista explica que muitas pessoas acreditam conseguir identificar plantas andando pelo mato, mas a Nicotiana glauca pode ser facilmente confundida com a couve. “É fundamental coletar apenas plantas que se tenha certeza absoluta de que são comestíveis, preferencialmente cultivadas em hortas”, orienta Ingrid.
Ela acrescenta que, em caso de suspeita de intoxicação, é importante levar um pedaço da planta ao hospital. “Mesmo que o médico não conheça a planta, um toxicologista ou profissional treinado poderá identificar a Nicotiana glauca e tratar adequadamente os sintomas, que são característicos desse tipo de intoxicação”, finaliza.
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