Um parto induzido no Hospital Regional de Ceilândia (HRC) terminou em tragédia na madrugada da última quinta-feira (24/7), após a morte de um bebê recém-nascido. A família da gestante acusa a equipe médica do hospital de negligência por insistir no parto normal e adiar a realização de uma cesariana, mesmo diante da alegação de sinais de sofrimento fetal.
Maria Eduarda Batista, 25 anos, estava com 40 semanas de gestação e iniciou o processo de indução do parto na tarde de terça-feira (22/7), às 17h40, com uso de comprimidos administrados a cada quatro horas. Na manhã de quarta-feira (23/7), a gestante começou a sentir contrações ritmadas e intensas. Segundo relato da mãe, a equipe médica insistiu no parto normal, apesar das dificuldades.
“Passei a quarta-feira inteira sentindo muita dor, sem conseguir comer. Pedia cesariana o tempo todo, mas diziam que parto normal era assim mesmo, demorado, e que tudo estava nos conformes”, contou Maria Eduarda.
Em determinado momento, a jovem chegou a desmaiar devido ao cansaço e à dor. A mãe dela também relatou que alertou os enfermeiros sobre o estado debilitado da gestante, mas a resposta recebida foi que ela deveria “evitar levantar da cama”.
O trabalho de parto durou mais de 24 horas. Por volta das 22h de quarta-feira (23/7), o bebê nasceu em parada cardiorrespiratória, sem sinais de vida. Relatos dos pais contam que, após 35 minutos de reanimação, o recém-nascido voltou a respirar, mas ficou em estado grave. Após duas horas, não resistiu.
Pedido de transferência
A família afirma que tentou transferir Maria Eduarda para um hospital particular ainda durante o dia, diante da falta de avanços no parto, mas, segundo eles, a equipe do HRC teria alegado que o trabalho de parto já estava em andamento.
Após a declaração de óbito, foi solicitada a necropsia. O documento aponta que o recém-nascido sofreu asfixia por um parto vaginal prolongado com distócia de ombro, complicação que dificulta a saída do feto.
A equipe de pediatria recebeu o bebê em morte aparente e realizou manobras de reanimação com intubação, compressões cardíacas e administração de adrenalina. Por um breve momento, houve retorno dos batimentos cardíacos, mas o quadro se agravou mesmo após as tentativas.
A mãe, ainda abalada, precisou compartilhar o quarto com outras mães e seus bebês poucas horas após o óbito do próprio filho.
Investigação na PCDF
A família registrou Boletim de Ocorrência na Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) contra a equipe médica do HRC, acusando negligência.
Em nota, a Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) declarou que “a paciente foi atendida e acompanhada pela equipe médica durante todo o procedimento. O protocolo de indução foi adequado e seguiu as indicações clínicas vigentes. A indução teve sucesso, e a paciente entrou em trabalho de parto espontâneo, sem sinais de sofrimento fetal ou desproporção entre o feto e a bacia materna. Até aquele momento, não havia indicação formal para cesariana, razão pela qual o parto vaginal foi conduzido conforme os protocolos assistenciais”.
A pasta, ainda, lamentou o desfecho e informou que o caso será investigado para esclarecer as circunstâncias da morte.