Apesar dos 144 anos de existência na rede pública de saúde, a continuidade do Hospital Emílio Ribas está ameaçada na avaliação dos profissionais da instituição.
O assunto veio à tona após reuniões sobre mudança de gestão promovidas pela Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo que colocaram como uma das alternativas a incorporação do instituto ao Hospital das Clínicas, o que, na avaliação de profissionais, não resolveria os problemas de RH do instituto, significaria a perda de um hospital estratégico do SUS e representa forte indicativo de que as portas abertas do prontos-socorro serão fechadas à população.
Hoje o Emílio Riba está sob o comando da CSS (Coordenadoria de Serviços de Saúde), que é responsável por mais 40 hospitais da chamada “administração direta”, como, por exemplo o Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia. Funcionários dizem que uma reestruturação está em andamento na secretaria, mas que mesmo com as mudanças, os hospitais continuarão sendo gerenciados por uma possível nova estrutura, a qual o Emílio Ribas também seria subordinado. No entanto, o futuro do hospital de infectologia ganhou novos rumos quando o Hospital das Clínicas manifestou interesse em incorporá-lo.
A principal dificuldade do Emílio Ribas hoje é com a reposição de RH para poder abrir leitos. Reiterados pedidos de concursos públicos e nomeações de profissionais aprovados foram feitos pelo hospital e estão tramitando pela secretaria, sob acompanhamento do Ministério Público de Justiça de Direitos Humanos.
Durante assembleia realizada com a participação de mais de 200 funcionários do hospital na última segunda (10), um dos questionamentos se deve ao fato de o HC ter dezenas dos seus próprios leitos fechados.
Outra pauta considerada bastante negativa é que o perfil de atendimento do Emílio Ribas destoa hoje integralmente dos institutos pertencentes ao HC, como o Icesp e o Instituto de Psiquiatria, que priorizam as áreas de Ensino e Pesquisa e trabalham de “portas fechadas” à população, ou seja, só recebem casos encaminhados. Embora também tenha Ensino e Pesquisa, o Emílio Ribas tem a assistência como missão institucional mais importante e, por isso, mantém um pronto-socorro 24h para doenças infecciosas aberto à população.
Durante a pandemia de covid-19, por exemplo, mais de 40 mil pessoas foram atendidas com suspeita ou diagnóstico da doença no PS do Emílio Ribas. Além disso, o pronto-socorro costuma acolher e oferecer assistência à populações vulneráveis que têm dificuldades para serem atendidas no SUS, caso das pessoas em situação de rua e travestis.
Por fim, a comunidade do hospital, que inclui até mesmo voluntários, pacientes, Ongs e o capelão, Padre João Mildner, avalia que por ser um hospital de combate a surtos, epidemias e pandemias, o Emílio Ribas é estratégico demais para sair da governança da Secretaria de Estado da Saúde. O hospital é 100% SUS.
“Não vemos vantagens nessa mudança, com o Emílio Ribas sendo incorporado ao HC. Temos missões distintas, trabalhamos diretamente com a população.”
HISTÓRICO DO HOSPITAL
- Epidemia de Dengue 2024
- Surto de MPox 2021-2022 (hospital que mais atendeu casos da doença no Brasil)
- Pandemia de Covid 2020-2024
- Surto de febre amarela 2018
- Emergência de Saúde Pública com Ebola 2014 (15 equipes treinadas)
- Surto de gripe H1N1 2009
- Surto de leptospirose 1991
- Uma das maiores referências para o atendimento de HIV e aids da América Latina desde os anos 80
- epidemia de meningite 1974-1975
- Fundado durante a epidemia de varíola em 1880
RAIO-X DA INSTITUIÇÃO
- Pronto-Socorro 22 mil atendimentos/ano
- 64 mil atendimentos ambulatoriais por ano
- 806 mil exames laboratoriais por ano
- Uma das maiores farmácias de antirretrovirais da América Latina com 58 mil atendimentos ano
- Aplicação de vacinas e atendimentos do Centro de Referência em Imunobiológicos Especiais: 40 mil/ano
- Consultas de raiva humana na Sala Pasteur: 9 mil/ano
- Gravidade dos pacientes atendidos na UTI: indicador Sofa 5,04 (na rede pública é de 1,86 e na rede privada é de 1,39)
- Maior programa de residência em infectologia da América Latina com 60 bolsas/ano (programa mais antigo do Brasil, criado em 1971)