Neurologistas descobriram que uma variante genética associada ao desenvolvimento do Alzheimer precoce está também ligada ao aumento do risco para outras doenças cerebrais. Conhecida como APOE ε4 (Apolipoproteína E do tipo épsilon 4), essa versão do gene está associada a distúrbios como Parkinson, demência frontotemporal e esclerose lateral amiotrófica (ELA).
No caso do Alzheimer, já se sabia que pessoas com uma cópia do gene têm um risco aumentado de aproximadamente três vezes, enquanto aquelas com duas cópias (hereditárias do pai e da mãe) correm risco ainda maior, de 10 a 15 vezes.
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O que é o Alzheimer?
- O Alzheimer é uma doença que afeta o funcionamento do cérebro de forma progressiva, prejudicando a memória e outras funções cognitivas.
- Ainda não se sabe exatamente o que causa a doença, mas há indícios de que ele esteja ligado à genética.
- É o tipo mais comum de demência em pessoas idosas e, segundo o Ministério da Saúde, responde por mais da metade dos casos registrados no Brasil.
- O sinal mais comum no início é a perda de memória recente. Com o avanço da doença, surgem outros sintomas mais intensos, como dificuldade para lembrar de fatos antigos, confusão com horários e lugares, irritabilidade, mudanças na fala e na forma de se comunicar.
A descoberta foi publicada na revista Nature Medicine, na segunda-feira (15/7). Ela foi feita a partir de uma análise com o maior banco de dados de proteínas expressas por indivíduos para avaliar doenças neurodegenerativas. Os pesquisadores analisaram dados de mais de 11 mil pessoas, com e sem sinais clínicos de degeneração cerebral, analisando mais de 250 milhões de proteínas em cada um.
O grupo liderado por Caitlin Finney e Artur Shvetcov, do Instituto Westmead, na Austrália, identificou uma assinatura proteica comum em portadores da variante APOE ε4. Ela aparece mesmo na ausência de sintomas, o que pode ajudar na detecção precoce.
Assinatura inflamatória é o alerta
A equipe encontrou centenas de proteínas associadas ao gene APOE ε4 no líquido que envolve o cérebro e também no sangue. Essa combinação foi ligada a processos inflamatórios e a uma resposta imune elevada.
O padrão se repetiu em tecidos cerebrais analisados post-mortem, inclusive em cérebros com Alzheimer, Parkinson e ELA. A assinatura surgiu mesmo sem sinais de uma doença específica, reforçando o caráter sistêmico do risco genético.
O gene modula a resposta imune de forma ampla, funcionando como uma espécie de “gatilho” inflamatório para outras condições neurológicas. Essa resposta inflamatória exagerada pode preparar o terreno para diferentes formas de neurodegeneração.
Alzheimer é uma doença degenerativa causada pela morte de células cerebrais e que pode surgir décadas antes do aparecimento dos primeiros sintomas
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Por ser uma doença que tende a se agravar com o passar dos anos, o diagnóstico precoce é fundamental para retardar o avanço. Portanto, ao apresentar quaisquer sintomas da doença é fundamental consultar um especialista
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Apesar de os sintomas serem mais comuns em pessoas com idade superior a 70 anos, não é incomum se manifestarem em jovens por volta dos 30. Aliás, quando essa manifestação “prematura” acontece, a condição passa a ser denominada Alzheimer precoce
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Na fase inicial, uma pessoa com Alzheimer tende a ter alteração na memória e passa a esquecer de coisas simples, tais como: onde guardou as chaves, o que comeu no café da manhã, o nome de alguém ou até a estação do ano
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Desorientação, dificuldade para lembrar do endereço onde mora ou o caminho para casa, dificuldades para tomar simples decisões, como planejar o que vai fazer ou comer, por exemplo, também são sinais da manifestação da doença
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Além disso, perda da vontade de praticar tarefas rotineiras, mudança no comportamento (tornando a pessoa mais nervosa ou agressiva), e repetições são alguns dos sintomas mais comuns
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Segundo pesquisa realizada pela fundação Alzheimer’s Drugs Discovery Foundation (ADDF), a presença de proteínas danificadas (Amilóide e Tau), doenças vasculares, neuroinflamação, falha de energia neural e genética (APOE) podem estar relacionadas com o surgimento da doença
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O tratamento do Alzheimer é feito com uso de medicamentos para diminuir os sintomas da doença, além de ser necessário realizar fisioterapia e estimulação cognitiva. A doença não tem cura e o cuidado deve ser feito até o fim da vida
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Dados genéticos fortalecem modelo preditivo
A análise incluiu 11.270 indivíduos. Cerca de 38% deles eram portadores da variante ε4 e 40% tinham alguma doença neurodegenerativa. A coincidência frequente entre estes dois grupos revelou que a assinatura do gene pode ser usada como marcador precoce de risco.
Outros dados reforçaram a ligação entre o gene e alterações no cérebro. A equipe analisou o córtex pré-frontal de 262 doadores post-mortem com sintomas de declínio cognitivo. A assinatura ε4 apareceu independentemente da presença de proteínas típicas como tau, amiloide ou alfa-sinucleína.
Isso sugere que o gene cria uma base comum para a degeneração cerebral, reforçada por estilo de vida ou idade. O achado pode abrir caminho para tratamentos e protocolos de prevenção mais precisos.
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