Um câncer de ovário acabou se tornando uma bomba-relógio para uma família dos EUA. Em 15 de maio de 2020, durante o isolamento da pandemia de Covid, Kanlaya Cauli sofreu um derrame enquanto brincava com o filho e o marido.
O colapso ocorreu repentinamente. Sem sintomas prévios que alertassem para a gravidade, a norte-americana começou a falar de forma desconexa e desmaiou.
“Ela foi levada às pressas para o hospital e teve que passar por um procedimento para desobstruir o coágulo que tinha no lado direito de cérebro. Aquele foi o dia em que nossas vidas descarrilaram”, relembra seu marido, o cuidador em tempo integral Matthew Cauli.
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Para os médicos, nada explicava como uma mulher jovem e sem problemas de saúde prévios conhecidos havia tido um derrame. Antes de descobrirem o que tinha causado o problema, apenas dois dias depois do primeiro incidente, ela teve um segundo acidente vascular cerebral (AVC), ainda mais grave.
“Não havia nada que pudessem fazer, era muito arriscado operar. Ela acabou ficando paralisada em todo o lado esquerdo do corpo”, diz Matthew. Os médicos começaram a investigar o que poderia ter levado à formação de tantos coágulos.
Em exames de corpo inteiro, a equipe de especialistas identificou uma massa de 10 centímetros no abdômen de Kanlaya. O diagnóstico: carcinoma de células claras, um tipo raro e agressivo de câncer de ovário.
O impacto do câncer de ovário raro
O carcinoma de células claras é pouco frequente, representando menos de 5% dos casos de câncer de ovário, mas entre mulheres asiáticas, como Kanlaya, as chances são dobradas, embora a medicina ainda não saiba o porquê. Metade das mulheres que descobrem este tipo de tumor tinham diagnóstico prévio de endometriose.
A doença afeta o crescimento das células ovarianas, favorecendo o surgimento de tumores por todo o órgão. Ela ainda costuma ter como agravante a resistência à quimioterapia, o que dificulta o tratamento em fases avançadas.
Sintomas do carcinoma de células claras
Como outros tipos de tumores ovarianos, o carcinoma de células claras do ovário pode levar aos seguintes sintomas :
- Inchaço ou inchaço abdominal.
- Dor abdominal.
- Dor pélvica.
- Dor nas costas.
- Perda de apetite.
- Necessidade de urinar com mais frequência do que o habitual.
- Cansaço.
- Náuseas ou indigestão.
- Alterações no período menstrual.
Segundo a oncologista Graziela Zibetti Dal Molin, que atua no Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo, o câncer de ovário costuma ser identificado em estágios avançados. Isso acontece porque os sintomas iniciais, como dor abdominal, inchaço e fadiga, são comuns a outros problemas e podem causar confusão.
“Seis em cada 10 mulheres só descobre a doença quando ela está muito avançada. Por isso, mulheres que possuem histórico de doença inflamatória pélvica, que tiveram a primeira menstruação antes dos 12 anos e que estão acima dos 50 anos devem ficar atentas aos sintomas”, diz ela.
A oncologista ressalta que pacientes que não tiveram gestação, com síndrome de ovários policísticos, endometriose ou excesso de gordura corporal correm maior risco de desenvolver a doença.
O tratamento do câncer de ovário geralmente combina a cirurgia e a quimioterapia, com variações, conforme o estágio da doença e o desejo da paciente de preservar a fertilidade.
“Em casos iniciais, pode ser realizada a remoção de apenas um ovário e sua tuba uterina. Em situações mais avançadas, é comum a remoção dos ovários, tubas, útero, linfonodos e o omento camada de tecido gorduroso, que cobre os órgãos abdominais”, explica o cirurgião oncológico e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO), Reitan Ribeiro.
Kanlaya teve dois AVCs causados por coagulações que os médicos vincularam ao câncer de ovário
Reprodução/Instagram/thededicatedcaregiver2 de 3
Para aliviar a pressão craniana, ela fez uma série de cirurgias
Reprodução/Instagram/thededicatedcaregiver3 de 3
Um procedimento a deixou sem parte do cânio durante mais de um mês
Reprodução/Instagram/thededicatedcaregiver
A jornada da reabilitação
Matthew afirma que muitos dos sinais do tumor passaram despercebidos pela família, seja pelo cansaço de cuidar de um bebê, seja pela inespecificidade dos sintomas. “Ela teve inchaços aleatórios nas articulações, foi o que mais nos preocupou, chegamos a fazer exames para entender como seus cotovelos estavam tão inchados, mas não conseguimos descobrir o que estava acontecendo”, afirma ele.
Após a descoberta do tumor, Kanlaya passou por uma cirurgia para retirada dos ovários e foi mandada para casa. Ela passou três meses entre cirurgias e reabilitação, mas não se recuperou das sequelas do AVC.
Voltou para casa usando um capacete e sem autonomia. Precisava de apoio para tarefas básicas. O marido assumiu o cuidado integral. “Nada me preparou para isso, mas encarei tudo de frente”, desabafa Matthew.
Ele tentou conciliar as reuniões do trabalho com as sessões de quimioterapia da esposa, mas depois de meses de esforço, foi desligado. Matthew passou a produzir conteúdo para as redes sociais para sustentar a família. A sinceridade dos vídeos tocou seguidores e gerou apoio financeiro. “Compartilhar nossa rotina se tornou uma forma de sobreviver e de manter contato com o mundo”, afirma.
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