O empresário Adriano de Andrade Marrocos, citado como o lobista que atuou para turbinar emenda parlamentar para Associação Moriá – investigada por desvio de recursos públicos, recebeu título de cidadão benemérito de Brasília, em 2015.
O Projeto de Decreto Legislativo (PDL) que agraciou Adriano com a honraria foi proposto pelo ex-deputado distrital Raimundo Ribeiro.
Na proposta, o parlamentar justificou o título concedido ao empresário devido aos “relevantes serviços prestados” por Adriano “a sociedade”. “Nada mais justo que a homenagem”, declarou o Raimundo Ribeiro, à época.
Adriano foi ligado à Associação Moriá pela Polícia Federal (PF). Na decisão do ministro Flávio Dino que autorizou a atuação da PF contra a Moriá, Marrocos é citado como “lobista” ligado ao senador Izalci Lucas, que teria atuado para subir valor de destinação de emenda parlamentar de R$ 732 mil para, pelo menos, R$ 9,4 milhões.
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Marrocos é sócio majoritário de uma das empresas, a Alpha Tech, cujo escritório de contabilidade – Marrocos Serviços Contábeis – atende à Moriá.
Ao STF a Polícia Federal o aponta como “importante promotor de lobby junto a parlamentares”. Diz, ainda, que “ele mantém uma relação próxima com o senador Izalci Lucas, responsável pela emenda parlamentar que financiou o TF 942706, cujo valor aumentou de R$ 732.046,00 para R$ 9.409.011,00”.
O lobista foi contemporâneo de partido do senador Izalci Lucas, quando foi filiado ao PSDB-DF, que era comandando pelo parlamentar. Marrocos e Izalci, segundo consta de investigação da PF e da CGU, “nutrem uma relação bastante próxima”.
Em 2014, Adriano disputou as eleições para deputado federal. Em 2022, candidatou-se a deputado distrital por outro partido: o PSD.
No documento que concedeu o título de cidadão a Marrocos também foram mencionadas outras três condecorações destinadas a ele:
- Título Mérito Cidadão Candango 2013, concedido pela Administração de Brasília.
- Diploma de Honra ao Mérito Empresarial pela Associação Comercial e Industrial de Samambaia, também em 2023
- Moção de louvou pela Câmara Legislativa do Distrito Federal, em 2012.
Emenda turbinada
Ao analisar os dados da emenda parlamentar destinada por Izalci Lucas, a CGU identificou que, originalmente, a destinação trazia dotação muito inferior, de apenas R$ 732.046,00. “Todavia, no relatório de execução orçamentária das emendas parlamentares de Izalci Lucas à Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2023, observou-se que a dotação subiu para R$ 9.409.011,00”, informou a PF.
O Portal da Transparência do governo federal revela que quatro entidades foram beneficiadas com repasses dessa emenda parlamentar de Izalci, sobretudo a Moriá, destinatária de R$ 7,5 milhões, cujos empenhos foram efetuados entre maio e julho de 2023.
“É forçoso inferir que houve uma interlocução direta com o congressista durante esse interstício, em favor da destinação de recursos à entidade investigada. Ainda, nessa linha de investigação, a conclusão mais lógica é de que Adriano provavelmente fez as vezes de lobista junto ao referido congressista, dados os indícios de intervenção no encaminhamento da emenda parlamentar”, diz trecho da representação da Polícia Federal, lastreada em relatório de auditoria da CGU e nota técnica.
A CGU ressalta que Izalci foi o responsável pela emenda parlamentar que financiou convênio de maior orçamento executado até o momento. Há, segundo a CGU encontros públicos entre Izalci e Marrocos poucos meses antes da celebração do termo de fomento entre a Moriá e o Ministério do Esporte para realização dos Jedis no DF.
Ainda segundo o levantamento que embasou decisão de Flávio Dino, em “potencial contrapartida espúria, empresas vinculadas a Marrocos e à sua esposa foram contratadas pela Moriá, de maneira claramente fraudada e direcionada – o que pode ter representado uma contrapartida pelos serviços de lobby prestados”, diz o documento.
10 audiências
O relatório da PF mostra que, em ao menos 10 audiências públicas ou sessões parlamentares solenes requeridas por Izalci Lucas nos últimos 14 anos, Adriano Marrocos participou ou fez pronunciamentos.
Em nota divulgada nesta terça, antes da quebra do sigilo da decisão de Dino, Izalci havia declarado, por meio de nota, que “reforça seu compromisso com a aplicação eficaz e transparente do dinheiro público. Por isso, cancelou o repasse do valor da emenda parlamentar que seria destinado à Associação Moriá, um dos alvos da operação”.
O senador disse que os Jogos Educacionais Digitais do Distrito Federal (Jedis-DF) constituem um projeto de iniciativa da Associação Moriá, realizado em parceria com o Instituto Federal de Brasília (IFB) e o Serviço Social do Comércio (Sesc). O Jedis-DF faz parte do programa “Profissões do Futuro”, executado pelo Ministério do Esporte.