O presidente Luiz Inácio Lula da Silva embarca nesta quarta-feira (4) rumo à França para uma visita de Estado que marca a retomada de uma tradição diplomática não realizada desde 2012, quando Dilma Rousseff foi recebida em Paris. A nova etapa nas relações entre Brasil e França será marcada por encontros com o presidente francês Emmanuel Macron, a assinatura de ao menos 20 atos bilaterais e o anúncio de uma declaração conjunta sobre mudanças climáticas, com vistas à COP30, que será sediada pelo Brasil em 2025.
Entre os compromissos de destaque da agenda, que se estende até o dia 9 de junho, estão a criação de um corredor marítimo descarbonizado, o reforço da cooperação em áreas como saúde, ciência, educação e segurança pública, e o reconhecimento internacional do Brasil como país livre da febre aftosa sem vacinação.
“A visita acontece num momento muito positivo do relacionamento bilateral, com aproximação em diversas áreas”, afirmou o embaixador Flávio Goldman, diretor do Departamento de Europa do Itamaraty. Em entrevista à imprensa, Goldman destacou que os dois países devem anunciar investimentos e discutir a reforma da governança global, o combate ao extremismo e a defesa do multilateralismo.
Encontro com Macron e homenagens
O primeiro compromisso oficial de Lula acontece na quinta-feira (5), com cerimônia no Pátio de Honra da Esplanada dos Inválidos, seguida de reunião com Macron no Palácio do Eliseu e assinatura dos atos conjuntos. O presidente também fará declarações à imprensa.
No dia 6, Lula receberá o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Paris 8 e visitará a exposição dedicada ao “Ano do Brasil na França”, no Grand Palais. A temporada cultural brasileira contará com eventos em mais de 50 cidades francesas até setembro, promovendo cooperação nas áreas artística, acadêmica e ambiental.
Outro momento simbólico será a homenagem ao presidente brasileiro na tradicional Academia Francesa. Fundada em 1635, a instituição já homenageou apenas 19 chefes de Estado em quase quatro séculos. Lula será o segundo brasileiro a receber a honraria — o primeiro foi Dom Pedro II, em 1872.
A agenda inclui ainda uma visita a Toulon, onde Lula e Macron tratarão do ProSub — Programa de Desenvolvimento de Submarinos —, em retribuição ao encontro ocorrido no Brasil, em março de 2024, durante o lançamento do submarino Tonelero na base de Itaguaí (RJ).
Em Lyon, Lula visitará a sede da Interpol, presidida atualmente pelo delegado brasileiro Valdecy Urquiza. A cooperação policial internacional será outro tema em evidência nos diálogos bilaterais.
Em Mônaco, no dia 8 de junho, Lula participará de um evento voltado à economia azul, com foco na conservação dos oceanos e no financiamento de soluções sustentáveis. No dia seguinte, em Nice, o presidente representará o Brasil na Terceira Conferência da ONU sobre os Oceanos, ao lado de pelo menos 60 chefes de Estado.
A agenda ambiental se conecta diretamente com a proposta franco-brasileira de uma nova declaração climática e com o esforço de ambos os países para ampliar a mobilização internacional rumo à COP30, que será realizada em Belém do Pará.
Relações comerciais e investimentos
O comércio entre Brasil e França alcançou US$ 9,1 bilhões em 2024, um aumento de 8% em relação ao ano anterior. Com mais de US$ 66 bilhões em investimentos, a França ocupa o terceiro lugar entre os maiores investidores no país sul-americano.
A expectativa é que a visita de Estado fortaleça ainda mais esses laços, com novos anúncios na área econômica durante o Fórum Econômico Brasil-França, previsto na programação.