A engenheira e líder opositora María Corina Machado, de 57 anos, foi anunciada nesta sexta-feira (10) como ganhadora do Prêmio Nobel da Paz de 2025, por sua “luta incansável pelos direitos democráticos do povo venezuelano e pela busca de uma transição pacífica do autoritarismo à democracia”. A decisão foi divulgada pelo Comitê Norueguês do Nobel, que destacou o papel da venezuelana na defesa do voto livre e na resistência a um regime que classificou como “brutal e repressivo”.
O comitê ressaltou que “a Venezuela evoluiu de um país relativamente democrático e próspero para um Estado autoritário e empobrecido, onde a máquina violenta do Estado é direcionada contra os próprios cidadãos”. Segundo o comunicado, “a maioria dos venezuelanos vive hoje em extrema pobreza, enquanto uma minoria ligada ao poder acumula riqueza”.
Como fundadora da organização Súmate, dedicada à promoção da democracia e à fiscalização de eleições, María Corina defendeu o direito de o povo venezuelano escolher seu futuro por meio de votos e não de balas, afirmou o comitê. “Ela fez uma escolha clara entre a via democrática e o caminho da violência.”
Passagem pelo Congresso brasileiro
María Corina Machado esteve no Senado Federal, em Brasília, em 2014, quando ainda era deputada na Assembleia Nacional da Venezuela. Ela participou de uma audiência pública da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), a convite do então senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES). À época, ela já enfrentava forte repressão do governo de Nicolás Maduro e havia tido o mandato cassado após participar de uma reunião do Conselho Permanente da Organização dos Estados Americanos (OEA), onde denunciou violações de direitos em seu país.
Durante a audiência, María Corina fez duras críticas ao regime chavista
“Alguns dizem que na Venezuela há uma guerra civil, mas o que existe é uma guerra contra os civis, promovida pelo Estado”, afirmou. “Maduro cruzou a linha vermelha ao prender opositores arbitrariamente. Na Venezuela não há autonomia de poderes, o sistema de Justiça está a serviço do poder, não há Estado de Direito e praticamente não existe liberdade de imprensa.”
No mesmo ano, a líder opositora também participou de sessão na Câmara dos Deputados, onde enfrentou protestos de parlamentares governistas, que a chamaram de “golpista” e “fascista”, mas também recebeu manifestações de apoio de deputados da oposição.
Luta e perseguição
Engenheira de formação, María Corina iniciou sua trajetória política nos anos 1990 e se tornou uma das vozes mais reconhecidas da oposição democrática na Venezuela. Em 2002, fundou a organização Súmate, voltada à promoção da cidadania, ao monitoramento eleitoral e à defesa do voto secreto e universal.
Desde então, enfrentou perseguições políticas, ameaças e restrições judiciais. Em 2023, foi a principal candidata da oposição nas eleições presidenciais de 2024, mas teve sua candidatura barrada pelo regime. Em seu lugar, apoiou Edmundo González Urrutia, cuja vitória foi contestada pelo governo de Maduro e colocada em dúvida por observadores internacionais.
Mesmo impedida de concorrer, María Corina manteve influência decisiva no processo político venezuelano e tornou-se símbolo de resistência civil. O prêmio, segundo analistas, é também um reconhecimento internacional à luta por liberdade e democracia na Venezuela.
Um Nobel com peso político
O anúncio do Nobel da Paz a María Corina Machado ocorre em um momento de tensão política na América Latina e amplia a pressão internacional sobre o governo de Nicolás Maduro, acusado de fraudar eleições, perseguir opositores e cercear a liberdade de imprensa.
A escolha da venezuelana foi recebida com entusiasmo por grupos de direitos humanos e líderes democráticos de diversos países. Em Caracas, opositores celebraram o prêmio como uma “vitória moral” do povo venezuelano.
Para o Comitê Norueguês do Nobel, a coragem de María Corina em enfrentar um regime autoritário sem recorrer à violência inspira defensores da democracia em todo o mundo.