A trombose é uma condição séria e perigosa, causada pela formação de coágulos sanguíneos que bloqueiam o fluxo de sangue nos vasos. Ela pode surgir após longos períodos de imobilidade, cirurgias ou até lesões — como aconteceu com a administradora Lívia Lourenço, de 39 anos.
Lívia levou uma queda enquanto esquiava em Bariloche, na Argentina, aos 28 anos. A má evolução do quadro acendeu um alerta de que algo estava errado e ela acabou descobrindo uma doença genética que aumenta o risco de trombose.
“Foi no último dia da viagem. Eu caí e virei o joelho. Ouvi um ‘crack’ e voltei para São Paulo mancando, andando meio na ponta do pé porque doía pisar no chão”, lembra. Dias depois, a panturrilha dela começou a inchar e endurecer. Foi quando ela decidiu procurar um médico.
Exames mostraram que Lívia estava com as veias entupidas, e com um coágulo grande na perna. “Fui internada na hora e passei três dias no hospital tomando anticoagulante, com uma dor terrível. Era uma queimação difícil de suportar”, conta a administradora e atriz.
Durante oito meses, ela precisou tomar anticoagulantes e usar uma meia elástica de compressão 24 horas por dia para reverter o quadro e evitar novas complicações.
Lívia teve que usar meias de compressão por oito meses
Depois do tratamento, Lívia decidiu investigar por que teve trombose aos 28 anos. Exames apontaram que ela tinha a condição hereditária chamada fator V de Leiden, uma mutação genética presente em cerca de 8% da população caucasiana, responsável por fazer o sangue coagular mais rápido do que o normal.
Leia também
O médico intensivista Tomaz Crochemore, especialista em coagulação e trombose, explica que a doença pode ocorrer em qualquer faixa etária, inclusive em pessoas jovens e aparentemente saudáveis. No caso de Lívia, o episódio foi resultado de uma combinação de fatores.
“O trauma no joelho e a imobilização prolongada foram os gatilhos imediatos para a formação do coágulo. Já a trombofilia hereditária atuou como um facilitador, aumentando a propensão à coagulação”, diz o especialista da Werfen Medical.
Segundo Crochemore, o risco aumenta significativamente quando a trombofilia é associada a outros fatores, como trauma, cirurgia, viagens longas ou uso de anticoncepcionais.
“Foi uma combinação explosiva: hormônio, falta de movimento e a mutação genética”, lembra Lívia.
Trombofilia hereditária por fator V de Leiden
- A trombofilia hereditária por fator V de Leiden é uma mutação genética que faz o sangue coagular com mais facilidade.
- Ela ocorre porque a proteína de coagulação chamada Fator V se torna resistente à ação da proteína C ativada, que normalmente ajuda a controlar a formação de coágulos.
- Com esse desequilíbrio, o organismo perde parte do controle sobre o processo de coagulação, o que aumenta o risco de trombose.
- O risco é ainda mais alto quando há outros fatores associados, como imobilização prolongada, cirurgias, traumas ou uso de anticoncepcionais hormonais.
Precauções necessárias
Um ano depois do acidente, Lívia finalmente conseguiu operar o joelho, rompido na queda. “A cirurgia foi mais difícil porque, por causa do anticoagulante, o sangue escorria internamente. A recuperação, que deveria durar dez dias, levou vinte”, conta.
Hoje, ela leva uma vida normal, mas com cuidados. “Se eu for viajar por mais de seis horas, tenho que usar a meia e tomar o anticoagulante de novo. Também aviso os médicos antes de qualquer cirurgia”, relata.
Crochemore reforça que esse tipo de precaução é fundamental para quem tem histórico de trombofilia. “Durante viagens longas, recomenda-se hidratação adequada, movimentar as pernas regularmente e, em alguns casos, o uso de meias de compressão”, orienta.
Em cirurgias, o médico precisa avaliar o uso preventivo de anticoagulantes. E o uso de anticoncepcionais hormonais deve ser evitado ou avaliado com cautela, já que o estrogênio aumenta o risco de trombose.
Siga a editoria de Saúde e Ciência no Instagram e fique por dentro de tudo sobre o assunto!