Em reportagem anterior, já havia sido questionado: a quem interessa o medo em Paraty? A cidade histórica do sul fluminense, reconhecida como monumento nacional, patrimônio mundial e cidade criativa pela Unesco, vive hoje, sob um clima de terror, marcado pelo crescimento da violência e pelo silêncio das autoridades locais.
Nas últimas semanas, o município tem sido palco de uma série de crimes violentos, incluindo chacinas, assassinatos, execuções de policiais e, mais recentemente, um caso brutal de feminicídio.
Na madrugada do último sábado (28), por volta das 4h, a jovem Vitória, de apenas 23 anos e mãe de quatro filhos, foi assassinada dentro de casa no Beco do Proposto, no Centro Histórico de Paraty. Segundo relatos, seu ex-companheiro, conhecido como Caveirinha e morador do bairro Ribeirinho, invadiu a residência onde Vitória estava com o novo namorado, Marcelo. Movido por vingança, Caveirinha atirou em Marcelo e, em seguida, executou Vitória com um tiro na cabeça, na frente dos filhos.
O caso se soma a outros episódios de violência que se espalham por bairros antes pacatos, agora tomados por traficantes, milicianos e disputas entre facções como o Comando Vermelho e os chamados “Três Comandos Puros”. A audácia dos criminosos é tamanha que execuções de policiais civis e militares ocorreram sem que os autores tenham sido presos. Há registros de tentativas de homicídio contra agentes de segurança, além da destruição de veículos oficiais, como o que foi queimado no estacionamento da 167ª Delegacia de Polícia, em uma suposta queima de arquivo.
Em resposta à morte de um policial civil, a corporação realizou operação na comunidade da Ilha das Cobras, onde dois criminosos foram mortos e quatro presos. No entanto, segundo informações, os responsáveis diretos pela execução do agente Bricio no morro do Dirão, no Corumbê, seguem foragidos, assim como os envolvidos em outros atentados.
Relatos de moradores também indicam o domínio do crime em comunidades como Barra Grande, onde criminosos incendiaram por duas vezes a sede da Secretaria Municipal de Segurança e Ordem Pública, local onde seria instalado um DPO (Destacamento de Policiamento Ostensivo) em parceria com a PM. No campeonato de futebol local, segundo os mesmos relatos, integrantes de facções teriam determinado as regras do torneio e feito a “segurança” do evento, sob o olhar silencioso do secretário de Esportes e do próprio prefeito.
Moradores afirmam ainda que criminosos impõem punições a quem desagrada o “sistema”. Em um caso recente, um homem envolvido em uma briga de casal foi espancado por traficantes, como forma de intimidação à comunidade.
Diante de todo esse cenário, causa estranhamento a ausência de manifestações públicas por parte da prefeitura. Nem o prefeito Zezé Porto, nem membros de seu governo, como o secretário de Segurança, Carlos Pereira, ou a coordenadora de Políticas para Mulheres, Marli Cardoso, se posicionaram sobre o feminicídio de Vitória ou sobre os outros episódios de violência que vêm aterrorizando a cidade.
Segundo fontes ouvidas pela reportagem, o silêncio é ainda mais gritante diante de um fato ocorrido há cerca de um mês: o sobrinho do prefeito, conhecido como Tiquinho, filho do procurador-geral do município, Dr. Ademir Porto, foi vítima de uma chacina no bairro Novo Horizonte. Mesmo assim, o prefeito não se manifestou publicamente sobre o caso.
A ausência de posicionamento oficial é tamanha que nem a Polícia Civil, nem a Militar divulgaram informações sobre o feminicídio de Vitória. A falta de esclarecimentos reforça a sensação de impunidade e abandono por parte do poder público. Coletivos de mulheres da cidade, atuantes em outras ocasiões, também se mantêm em silêncio, o que tem causado perplexidade entre moradores.
Diante disso, o Capital Brasília volta a cobrar providências das autoridades competentes. É urgente uma manifestação do delegado da Polícia Civil de Paraty, do comando da PM, do prefeito e, principalmente, da Coordenadoria da Mulher do município. O caso de Vitória não pode ser apenas mais um número nas estatísticas da violência. A sociedade de Paraty exige respostas.