Uma pesquisa feita por nutricionistas e médicos da Universidade de São Paulo (USP) revelou que a dieta do brasileiro possui a quantidade adequada de proteínas. Mesmo entre os 20% mais pobres da população, é raro que haja necessidade fisiológica de suplementação do macronutriente.
O estudo, publicado na Revista de Saúde Pública em 24 de junho, derruba uma ideia muito propagada da nutrição contemporânea de que vivemos com um déficit proteico. Considerando as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), o estudo da USP indica que apenas 2,6% dos brasileiros apresentaram ingestão de proteína abaixo do recomendado.
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Para os pesquisadores, os dados revelam que a necessidade de suplementação de proteínas no país tem sido hipervalorizada. Para eles, a armadilha está em isolar o nutriente e ignorar o padrão alimentar como um todo.
“O que os dados atuais mostram é que, muito mais do que oferecer proteínas ou outros nutrientes, muitas vezes a partir da suplementação industrial de alimentos ou pela elaboração de fórmulas ‘funcionais’ altamente publicizadas, o maior desafio da alimentação contemporânea está em ampliar sua diversificação, reduzindo a participação de produtos de origem animal e de ultraprocessados, e ampliando a presença de frutas, verduras e legumes in natura”, defendem os pesquisadores.
A recomendação atual da OMS preconiza se manter na faixa de ingestão de 0,8 gramas do nutriente por quilo de peso ao dia, o que equivale a uma faixa de 10% a 15% do total de energia ingerida diariamente. Essa quantidade do macronutriente é encontrada em cerca de 180 g de peito de frango cozido ou 2,5 dosadores de whey protein.
Muita proteína, poucas frutas e legumes
O estudo indica que, entre 1990 e 2015, o Brasil foi o país que mais aumentou o consumo per capita de carne bovina e de aves. Isso contribuiu para garantir o nível adequado de proteína na dieta para a maior parte da população, índice que se manteve em levantamentos mais recentes.
Ao mesmo tempo, outros grupos alimentares continuam ausentes da rotina alimentar frequente, especialmente entre pessoas com baixo poder econômico. Frutas, legumes e verduras representam uma média de 3,4% do total de calorias ingeridas entre as famílias mais pobres e 6,4% no quintil mais rico. O ideal era manter índices próximos a 10% do total de calorias com esta origem.
Segundo o levantamento Vigitel 2023, 78,6% dos adultos das capitais brasileiras não atingem os 400 gramas diários recomendados pela OMS de alimentos frescos de origem vegetal.
Wheys na mira
Usando a popularidade dos wheys (e com produtos de mais variados tipos integrando suplementos proteicos em sua composição), os pesquisadores evidenciam como o nutriente ganhou popularidade extrema, especialmente em produtos do universo fitness.
Suplementos de whey protein são usados por quem busca emagrecer ou ganhar músculos. Mas, de acordo com os pesquisadores, esse foco é desproporcional. “Faltam alimentos de alta densidade nutricional, não proteínas”, concluem os autores.
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Existem três tipos de whey protein
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Um deles é o whey concentrado, que tem 75% de concentração proteica
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Outro é o isolado, que tem 80% de proteínas
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Alto teor proteico
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Essa discussão não é nova. Em 1974, o cientista Donald McLaren já criticava o foco internacional na proteína isolada. Ele mostrava que, ao garantir calorias suficientes, quase sempre o corpo recebe nutriente o bastante.
“Acreditar que mais proteína é sempre melhor pode mascarar deficiências reais, como a baixa ingestão de alimentos naturais e variados”, afirmam os cientistas brasileiros.
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