A vacinação infantil apresentou leve melhora globalmente em 2024, mas o crescimento foi tão pequeno que foi caracterizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma estagnação. Os dados foram divulgados pela OMS e pelo Fundo das Nações Unidas sobre a Infância (Unicef) nesta terça-feira (15/7).
No ano passado, 89% das crianças no mundo receberam pelo menos uma dose da vacina DTP, que previne difteria, tétano e coqueluche, um dos imunizantes mais importantes do calendário infantil. O mesmo percentual foi registrado no ano anterior, embora tenha havido um aumento de 171 mil crianças em 2024.
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Do total de crianças vacinadas, 85% completaram as três doses recomendadas. Isso representa 109 milhões de indivíduos. O aumento em relação a 2023 foi de apenas um milhão de meninas e meninos totalmente imunizados. Do outro lado, estima-se que 14,3 milhões de crianças não tomaram nenhuma vacina.
Sarampo exige atenção global
A vacinação contra o sarampo também subiu em 2024. A primeira dose foi aplicada em 84% das crianças. A segunda, em 76%. Mesmo assim, mais de 30 milhões de meninas e meninos seguem vulneráveis à doença.
Sessenta países enfrentaram surtos grandes ou mais graves de sarampo em 2024, quase o dobro dos registrados em 2022. A maior parte dos casos ocorreu em nações africanas e em áreas de conflito.
A OMS considera os novos números de vacinados um avanço, mas alerta para os riscos. “Ainda há muito a ser feito e estamos enfrentando graves ameaças. Os cortes financeiros na ajuda internacional de saúde e a desinformação ameaçam como nunca as décadas de progresso alcançadas”, disse Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da organização.
Saiba como são feitos os testes de uma vacina
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Brasil volta ao patamar de 90%
No Brasil, os dados indicam que a cobertura das vacinas infantis ultrapassou 90% pela primeira vez desde 2015. Nas duas vacinas mais enfocadas pela OMS, o país se saiu bem: a cobertura de DTP em três doses chegou a 91% e a de sarampo ficou em 90%.
A OMS destaca o Brasil como um dos países que conseguiram recuperar parte do ritmo de imunização perdido nos últimos anos. Mas alerta que a melhora ainda é frágil. O número, apesar de positivo, segue abaixo da quase totalidade que foi registrada em 2010 e 2011, quando a análise anual da OMS começou.
Quase 20 milhões ainda sem proteção
Em 2024, quase 20 milhões de crianças deixaram de receber pelo menos uma dose da vacina DTP. Segundo o relatório, nove países concentram mais da metade dessas crianças: Nigéria, Índia, Sudão, República Democrática do Congo, Etiópia, Indonésia, Iêmen, Afeganistão e Angola.
Para o OMS, uma das explicações está no aumento de crises econômicas e de conflitos armados que levaram a crises humanitárias. Em 13 países, especialmente no continente africano, o número de crianças não vacinadas aumentou rapidamente de 3,6 milhões em 2019 (ano de referência) para 5,4 milhões em 2024.
“Milhões de crianças continuam sem proteção contra doenças preveníveis, e isso deve preocupar a todos nós. Nenhuma criança deve morrer de uma doença que sabemos como prevenir”, disse Catherine Russell, Diretora Executiva do Unicef, durante reunião com jornalistas.
OMS pede investimento e combate à desinformação
Para reverter o cenário, a OMS e o Unicef pediram ações urgentes dos governos para manter e ampliar o acesso à vacinação. Entre as medidas sugeridas estão:
- Refinanciar o ciclo estratégico da Aliança para Vacinas, a Gavi (2026–2030), para proteger milhões de crianças em países de baixa renda e a segurança sanitária global;
- Fortalecer a imunização em situações de conflito e fragilidade, para prevenir surtos de doenças mortais;
- Incorporar firmemente a imunização aos sistemas de atenção primária à saúde, para fechar as lacunas de equidade;
- Combater a desinformação e aumentar ainda mais a adesão à vacina por meio de abordagens baseadas em evidências;
- Investir em dados mais fortes e sistemas de vigilância de doenças para orientar programas de imunização de alto impacto.
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