Lula propõe reforma na OMC e alerta sobre desigualdades globais em plenária do Brics no Rio

Presidente critica instituições financeiras internacionais, defende combate ao protecionismo e à concentração de riqueza e propõe governança global para a inteligência artificial

Foto: Ricardo Stuckert

Foto: Ricardo Stuckert

Durante a plenária do Brics sobre multilateralismo, economia e inteligência artificial, realizada no Rio de Janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu uma ampla reforma na Organização Mundial do Comércio (OMC) e alertou para o agravamento das desigualdades globais promovidas pelo atual sistema financeiro internacional. Em seu discurso, Lula criticou o papel desempenhado por instituições como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI), classificando suas práticas como um “plano Marshal às avessas com países emergentes e subdesenvolvidos”.

De acordo com o presidente, os fluxos de ajuda internacional têm diminuído enquanto o custo da dívida de países mais pobres segue aumentando. “O modelo neoliberal aprofunda as desigualdades. Três mil bilionários ganharam US$ 6,5 trilhões desde 2015. Justiça tributária e combate à evasão fiscal são fundamentais para consolidar estratégias de crescimento inclusivas e sustentáveis, próprias para o século 21”, afirmou.

Lula cobrou a retomada das negociações multilaterais dentro da OMC e criticou o recrudescimento de medidas protecionistas, que considera prejudiciais aos países em desenvolvimento. “A paralisia da OMC e o recrudescimento do protecionismo criam uma situação de assimetria insustentável”, declarou.

A posição do presidente brasileiro está em sintonia com a Declaração de Líderes do Brics divulgada na véspera, na qual os membros do bloco, que inclui, além do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, condenaram as tarifas protecionistas por entenderem que elas “distorcem o comércio e violam o direito internacional”. O documento reafirma o apoio a um sistema multilateral de comércio baseado em regras, aberto, transparente e justo.

Lula também defendeu um novo pacto internacional sobre comércio e clima, com foco na diferenciação de políticas ambientais legítimas, e propôs o fortalecimento de sistemas de pagamento transfronteiriços mais rápidos, baratos e seguros, como forma de reduzir a dependência de moedas de países ricos.

Em sua fala, o presidente ainda destacou a importância de incluir os países em desenvolvimento no debate global sobre inteligência artificial. Para Lula, a tecnologia deve estar submetida a um modelo de governança justo e não pode ser “privilégio de poucos países nem instrumento de manipulação nas mãos de bilionários”. Ele defendeu a participação ativa do setor privado e da sociedade civil nesse processo e celebrou a aprovação da Declaração sobre Governança da Inteligência Artificial pelos países do Brics como um avanço nessa direção.

Com isso, Lula reforça sua atuação em fóruns internacionais como porta-voz das nações em desenvolvimento, reivindicando maior equidade nos processos decisórios e nas regras que regem a economia e as tecnologias globais.

Sair da versão mobile