A Polícia Federal deflagrou, nesta quinta-feira, uma operação de busca e apreensão contra um suposto grupo criminoso que cobrava propina por emendas parlamentares destinadas a um hospital no Rio Grande do Sul. Com autorização do ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), os agentes cumpriram 13 mandados em Brasília e em cinco cidades do estado. Durante as buscas, foram apreendidos R$ 350 mil em espécie e aparelhos celulares escondidos em um escritório.
Entre os investigados, está Lino Rogério da Silva Furtado, secretário parlamentar do deputado federal Afonso Motta (PDT-RS). O congressista, por sua vez, não foi alvo direto da operação. Segundo a PF, Furtado atuava ao lado do lobista Cliver Andre Fiegenbaun, dono da empresa CAF Representação e Intermediação de Negócios. O esquema envolvia a cobrança de propinas de até 6% sobre as emendas destinadas ao Hospital Ana Nery, em Santa Cruz do Sul (RS).
Fiegenbaun também ocupava o cargo de diretor financeiro e administrativo da Metroplan, fundação ligada ao governo estadual. Com base em provas extraídas do celular do lobista, a PF identificou notas fiscais de serviços de captação de emendas, variando de R$ 100 mil a R$ 670 mil, e trocas de mensagens com Lino Furtado sobre o esquema. Ambos foram afastados de suas funções públicas por decisão de Flávio Dino, que também determinou o bloqueio de bens dos investigados no valor de R$ 509 mil.
Deputado nega envolvimento
Ao ser informado sobre a operação, Afonso Motta, que estava no Rio Grande do Sul, retornou a Brasília para se reunir com o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). O encontro ocorreu a portas fechadas. Antes da reunião, Hugo Motta declarou que acompanha o caso “para garantir que tudo seja conduzido da forma mais correta possível”.
Na saída, Afonso Motta negou envolvimento e disse não ter conhecimento de irregularidades. “Não apareço como investigado, mas é claro que isso não diminui nossa preocupação. Sempre tivemos critério no encaminhamento de emendas, cumprindo as formalidades”, afirmou o parlamentar.
O deputado anunciou que demitirá Lino Furtado, que trabalhava com ele há 15 anos e frequentemente o acompanhava em Brasília. “Estou preocupado e abalado porque é inadmissível uma situação como essa. De certa forma, atinge o meu mandato. Mais do que a questão pessoal, é a credibilidade do mandato que fica comprometida”, lamentou Motta.
Repercussão e impactos políticos
O caso reacende o debate sobre a transparência na destinação de emendas parlamentares. O STF tem pressionado por mais clareza no processo de pagamento desses recursos, enquanto lideranças do Congresso defendem o modelo atual, alegando que há mecanismos suficientes para evitar corrupção.
A investigação ocorre em um momento delicado, com uma reunião de conciliação entre o Legislativo e o Judiciário marcada para o fim do mês. A operação policial pode fortalecer os argumentos daqueles que pedem maior fiscalização.
O cientista político Geraldo Tadeu, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), avalia que o impacto político para Afonso Motta dependerá do desdobramento das investigações. “No curto prazo, seu nome ficará vinculado ao caso, trazendo prejuízo político. No entanto, caso não haja novas evidências contra ele, é possível que o episódio seja absorvido até as próximas eleições”, ponderou.