TJ de Alagoas vira alvo no CNJ após torrar verba com iPhones para altos cargos

Presidência nega compra de iPhones, mas documentos revelam fornecimento de aparelhos de última geração em contrato milionário com a TIM. Caso remete à polêmica recente do TJ do Maranhão.

Foto: Assessoria

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O Tribunal de Justiça de Alagoas (TJAL) está no centro de uma controvérsia envolvendo a contratação de um serviço de telefonia móvel que inclui a entrega de 341 aparelhos celulares, a maioria de modelos de última geração da Apple. Embora a corte insista que não houve compra direta dos dispositivos, e sim a contratação de um serviço em regime de comodato — quando o bem é cedido para uso, sem transferência de propriedade —, documentos oficiais colocam essa justificativa em xeque.

O contrato, firmado com a operadora TIM, tem valor total de R$ 1,7 milhão e vigência de 30 meses. A informação foi encaminhada em ofício ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) pelo presidente do TJAL, desembargador Fábio Bittencourt, na tentativa de conter a repercussão negativa do caso. No entanto, os dados anexados ao processo disciplinar aberto no CNJ mostram que a despesa milionária será arcada com recursos públicos e beneficiará uma parcela restrita do judiciário alagoano — formada por desembargadores, diretores estratégicos e assessores de alto escalão.

O próprio tribunal reconhece que, dos 341 celulares disponibilizados, 35 pertencem ao pacote mais caro do plano contratado, com custo mensal de R$ 206,70 por linha. Isso representa um gasto de aproximadamente R$ 259 mil apenas com os modelos mais sofisticados ao longo do contrato — valor suficiente para levantar dúvidas sobre a real natureza do acordo.

Nos documentos apresentados, a presidência do TJAL defende que a prática segue padrões adotados por tribunais superiores, como o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Superior Tribunal de Justiça (STJ), e que a renovação dos aparelhos a cada 15 meses garante eficiência e modernização no atendimento. A alegação, no entanto, foi duramente criticada pela advogada Adriana Mangabeira Wanderley, autora da reclamação disciplinar no CNJ.

Para ela, a argumentação do tribunal é um “mero jogo de palavras” para mascarar o uso de verbas públicas com fins questionáveis. “Trata-se de uma afronta aos princípios da moralidade e da economicidade. Enquanto falta estrutura para garantir o acesso à justiça à população mais pobre, o dinheiro público é direcionado para bancar o luxo de poucos”, afirmou.

O caso está sob análise do CNJ, o mesmo órgão que recentemente suspendeu a compra de iPhones para magistrados no Tribunal de Justiça do Maranhão, após críticas sobre gastos excessivos em detrimento de investimentos em infraestrutura e serviços básicos.

Enquanto isso, cresce a pressão por mais transparência e responsabilidade na gestão dos recursos públicos dentro do Poder Judiciário, especialmente em estados onde o acesso à justiça ainda enfrenta entraves estruturais e sociais significativos.

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