A última oitiva, realizada quinta-feira (3/8), demonstra essa avaliação da forma mais objetiva possível, com números. Abrindo os trabalhos do semestre, a CPI ouviu o major da Polícia Militar do DF Flávio Silvestre de Alencar, preso duas vezes por investigações de atos antidemocráticos. O PM, no entanto, não teve sequer um minuto de fala durante os quase 30 minutos usados, na soma, pelos dois deputados distritais do PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Os membros da CPI do Partido Liberal, Thiago Manzoni e Joaquim Roriz Neto, usaram, cada um, cerca de 15 minutos para “questionar” o depoente sobre o golpe de 8 de Janeiro. Mas as três perguntas de Manzoni foram respondidas em quase 35 segundos pelo PM, que respondeu em ainda menos tempo – 16 segundos – as quatro perguntas de Joaquim Roriz Neto.
Durante o restante do tempo, os distritais bolsonaristas apenas discursaram, sendo ouvidos pelo major Flávio Silvestre, que é peça importante para alguns esclarecimentos. O militar chegou a mandar mensagens de WhatsApp para outros policiais, falando: “Na primeira manifestação, é só deixar invadir o Congresso”, além de aparecer em vídeo ordenando uma movimentação da tropa que acabou facilitando o acesso de vândalos ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Foto-alan-diego-prestando-depoimento-na-cldf (1)
Entre várias perguntas não respondidas, ele afirmou, brevemente, que estava sendo ameaçado Breno Esaki/Metrópoles @BrenoEsakiFoto
Marco Edson Gonçalves Dias, ex-ministro chefe do GSI depõe na CPI dos Atos Antidemocráticos do dia 8 de Janeiro, na CLDF 8
Prevendo nomeações de 60 mil servidores públicos, CLDF aprova LDO 2024 Igo Estrela/Metrópoles
General Dutra na CPI da CLDF
General Dutra na CPI da CLDF André Duarte/Assessoria Chico Vigilante
Chegada do depoente da CPI da CLDF, general Augusto Heleno, ex-ministro de Jair Bolsonaro
Chegada do depoente da CPI da CLDF, general Augusto Heleno, ex-ministro de Jair Bolsonaro Hugo Barreto/Metrópoles
cldf-coronel-pmdf-cpi-atos-antidemocráticos
Coronel da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) Jorge Henrique da Silva Pinto presta depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Antidemocráticos na Câmara Legislativa (CLDF) Vinícius Schmidt/Metrópoles
Ex-secretário de Segurança Pública do DF Júlio Danilo na CPI da CLDF 6
Em sua fala, o ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal Júlio Danilo se defendeu das críticas contra a atuação da pasta em 12 de dezembro, quando bolsonaristas tentaram invadir a sede da Polícia Federal Breno Esaki/Metrópoles
Brasília (DF), 04/04/2023. Deputado Joaquim Roriz Neto convida para sessão solene em homenagem ao Dia do Jornalista e em tributo ao jornalista Gilberto Amaral.Fotos: Matheus Veloso/Metrópoles
Deputado distrital pastor Daniel de Castro Renan Lisboa/CLDF
Deputado Distrital Thiago Manzoni 2
Reprodução/Instagram
0
Fora do PL, mas também alinhado ao bolsonarismo, o deputado pastor Daniel de Castro (PP) só ouviu o depoente por pouco mais de dois minutos, mesmo destacando “a importância dessa Comissão na busca pela verdade”. Nos outros 23 minutos do tempo dele, foi o investigado que ouviu o distrital discursar.
Esquerda
No começo da CPI, Chico Vigilante (PT) e Hermeto (MDB) usaram do tempo livre que dispõem, como presidente e relator, respectivamente, para questionamentos. Cada membro titular tem 25 minutos para conseguir novas informações do depoente, enquanto os suplentes têm 15.
Os distritais de esquerda questionaram mais e ouviram mais detalhes do dia da tentativa de golpe. Gabriel Magno (PT), por exemplo, teve 15 minutos. Quase um terço do tempo – 4 minutos e 42 segundos – foi ocupado por falas do investigado. Fábio Felix (PSol), nos seus 25 minutos, chegou a fazer 42 perguntas, deixando o major falar por mais de 10 minutos.
Outras sessões
O uso da CPI pela direita como palco não é exclusividade da última sessão. Em uma das oitivas consideradas mais importantes para o trabalho de apuração da Casa, quando o general Augusto Heleno prestou depoimento, o mesmo cenário foi visto. Ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Heleno era o primeiro ex-ministro de Jair Bolsonaro a comparecer na Comissão e prestar esclarecimentos.
Mas quem deixa clara a visão mais alinhada ao bolsonarismo não se importou muito com o que o militar poderia revelar. Paula Belmonte (Cidadania), que vem usando a CPI para defender o acampamento golpista em frente ao Quartel-General do Exército, sequer perguntou algo para o general Heleno. Durante a fala dela, o ex-ministro ouviu elogios e um discurso que citou até a crise na Venezuela. “Golpe é receber um ditador. [….] Eu vi centenas de venezuelanos passando fome.”
Manzoni, dessa vez, questionou o depoente. “Vossa excelência tem 75 anos hoje, isso?”, foi a única pergunta, logo no início do seu tempo, antes de uma série de palavras de admiração ao general. “Para essa Câmara Legislativa, a presença do senhor a torna mais nobre”, disse. No fim da sessão, Augusto Heleno chegou a defender o golpe que instalou a ditadura militar no Brasil. Ao todo, 434 pessoas foram assassinadas ou desapareceram durante aquele período, além dos casos de tortura, segundo relatório final da Comissão Nacional da Verdade.