Desde ontem, o Brasil ocupa a presidência rotativa do Brics, assumindo a liderança do bloco em um momento marcado por sua expansão e por crescentes tensões geopolíticas. O grupo, que até 2024 era composto por cinco países (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), passou a incluir outros cinco membros efetivos: Irã, Emirados Árabes Unidos, Egito, Etiópia e Arábia Saudita. Este ano, o Brics ainda se prepara para a chegada de nove novos integrantes.
Sob o lema “Fortalecendo a Cooperação do Sul Global para uma Governança mais Inclusiva e Sustentável”, o Brasil terá como prioridades a reforma da governança de organismos internacionais e o desenvolvimento sustentável com inclusão social. No entanto, o principal desafio será lidar com o impacto da presidência de Donald Trump nos Estados Unidos, marcada por um discurso contrário ao multilateralismo e pela ameaça de retaliações comerciais, especialmente contra China e Brasil.
A presidência russa em 2024 abriu as portas para a entrada de novos países no Brics, com a confirmação de Cuba, Bolívia, Indonésia, Belarus, Cazaquistão, Malásia, Tailândia, Uganda e Uzbequistão como integrantes. No entanto, o status dessas nações – se como membros efetivos ou parceiros – ainda não foi esclarecido pelo Ministério das Relações Exteriores (MRE).
Membros efetivos têm poder de voto e veto nas decisões do bloco, tomadas por consenso. Já os parceiros podem participar de reuniões e eventos, mas sem influência direta nas deliberações.
A chegada do Brasil à presidência dificulta a inclusão da Venezuela, vetada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no ano passado, o que gerou atritos com o governo de Nicolás Maduro.
Entre as iniciativas do Brics, destaca-se a construção de um sistema de pagamento com moedas locais, reduzindo a dependência do dólar nas transações comerciais. A proposta já atraiu a ira de Donald Trump, que ameaçou aumentar tarifas sobre produtos provenientes dos países que aderirem ao sistema.
Para o professor de direito internacional Paulo Borba Casella, da USP, a imposição de tarifas generalizadas pelo governo norte-americano poderia prejudicar a economia dos próprios EUA. “Trump enfrenta limitações econômicas para aplicar sanções a todas as nações do Brics, que juntas representam mais de 40% da população mundial e 37% do PIB global por poder de compra”, explicou o especialista.
Com a expansão planejada, o Brics solidifica sua posição como uma das forças mais influentes na política global, superando em peso econômico o G7, grupo formado pelas nações mais industrializadas. O Brasil, na liderança do bloco, enfrenta o desafio de consolidar a cooperação entre os novos membros e sustentar os ideais de governança inclusiva em um cenário de crescentes disputas geopolíticas.
O próximo encontro do Brics, ainda sem data definida, será um teste para a capacidade do Brasil de equilibrar interesses diversos e avançar em pautas estratégicas para o bloco.