Emendas parlamentares: O agiota do dinheiro público
Colaboração premiada revela o modus operandi da fraude com emendas parlamentares, indicando o envolvimento de deputados, secretários e um conselheiro do TCDF em um esquema de desvio de recursos públicos.
Uma língua afiada revelou um dos maiores esquemas de corrupção que corroem os cofres públicos há décadas no Distrito Federal. Sidnei Barreto, mais conhecido como Marroquino, preso na operação Destituídos, revelou, em colaboração premiada à Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), o modus operandi das emendas parlamentares oriundas da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF).
A conversa de boca pequena iluminou o maior operador do dinheiro público: Aci Carvalho. Colecionador de várias OSCs (Organizações da Sociedade Civil), Aci é considerado, nos bastidores políticos, uma espécie de agiota do dinheiro público. Ele antecipa valores a parlamentares e chefes de gabinete, que são posteriormente resgatados por meio de emendas.
Aci Carvalho, Claudio Reis e Thiago
Na alça de mira da polícia estão vários parlamentares e chefes de gabinete. Um dos alvos é o deputado Roosevelt Vilela (foto abaixo), que tem como operador André Luiz Perez Nunes, Secretario Executivo da Segunda Secretaria da CLDF e atua em nome do parlamentar na Granja do Torto, espaço sob influência do distrital e conhecido por sediar grandes eventos. André já chegou a solicitar R$ 700 mil a produtor de eventos para facilitar a realização de uma festa no local.
Nas emendas destinadas pelo parlamentar, os produtores são obrigados a repassar um percentual significativo ao político como retorno do investimento. Recentemente, o presidente da CLDF, Wellington Luiz (MDB-DF), determinou que Marroquino não circulasse pelos gabinetes da Casa. A decisão ocorreu após a prisão do chamado “Rei das OSCs”, que utiliza diversos laranjas para abocanhar milhões do GDF. No entanto, alguns deputados ignoraram o alerta do presidente e continuaram fechando acordos, inclusive com jornalistas que intermediam emendas para eventos e obras.
Após a deflagração da operação, o que chamou a atenção foram os carros importados apreendidos, que acabaram sendo liberados em um curto espaço de tempo. Marroquino (foto) e Aci dominam o mercado criminoso que se apodera de emendas parlamentares a fim de sangrar os já combalidos cofres do Governo do Distrito Federal.
Empresários e políticos envolvidos
Em colaboração premiada ao Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), sob sigilo, foi revelado que Aci utiliza 15 instituições registradas em nomes de terceiros para abastecer seu grupo e manter sua rede de influência. Entre as estratégias adotadas, ele teria contratado advogados para apresentar denúncias-crime contra instituições adversárias, visando inviabilizar projetos concorrentes.
O nome do secretário de Turismo do DF, Cristiano Araújo, também aparece nas denúncias. Segundo os depoimentos, ele teria participado do esquema ao notificar as instituições adversárias sobre impedimentos legais após ações do MPDFT, favorecendo, assim, os grupos ligados a Aci. Eventos como “64 Anos de Brasília” e “Fim de Ano Brasília”, que receberam recursos públicos, estão sob investigação da Justiça do DF.
Nos bastidores, circulam informações sobre o envolvimento do conselheiro e vice-presidente do Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF), André Clemente, que é alvo de um processo relacionado ao escândalo Capital Luz, já em andamento no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Esse processo pode levar o conselheiro a deixar o tribunal e a responder judicialmente. Nos corredores do poder, comenta-se que foi o próprio Clemente quem fez chegar ao Ministério Público um escândalo ainda maior que o dele.
Intermediários e o superfaturamento de contratos
Entre os operadores do esquema estão Thiago Jaguaribe e Cláudio “Banana”, apontados como intermediários das negociações de Aci Carvalho. Outro nome citado é Bruno Majestic, envolvido na compra de emendas para eventos musicais. Segundo as investigações, ele superfaturava os contratos de suas bandas e pagava valores irrisórios aos artistas.
Dedé Roriz, membro de uma tradicional família política do DF, também é mencionado. Ele seria responsável pela captação de empresários interessados em projetos de palestras e tecnologia, ligados ao esquema de Aci.
No setor artístico, Soares surge como um dos articuladores do superfaturamento de cachês, tendo como principal aliado Airton Rodrigues, conhecido como “Maninho”.
Esse rocambolesco e criminoso enredo segue sendo investigado pela PCDF, que colhe depoimentos e pode deflagrar uma nova operação e qualquer momento.