Arquidiocese retira apoio jurídico e processa Padre Walfran

Walfran Fonseca é alvo de duas ações judiciais por irregularidades na gestão financeira e venda de areia à Braskem

Foto: Divulgação

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A Arquidiocese de Maceió negou, na última sexta-feira (30), que esteja financiando a defesa do padre Walfran Fonseca, que responde a processos judiciais por calúnia, injúria e difamação. Os processos têm origem em acusações feitas por jornalistas e veículos de comunicação, após seu nome ser vinculado a investigações sobre a chamada “Máfia da Areia”, um esquema de extração ilegal de areia em Alagoas.

Em resposta à Tribuna Independente, a assessoria de comunicação da Arquidiocese esclareceu que, embora a Fundação Leobino e Adelaide Motta tenha sido a responsável por propor as ações enquanto o padre Walfran estava à frente da instituição, a nova gestão da Arquidiocese, sob Dom Beto Breis, não está bancando a defesa do religioso. “A Fundação foi dirigida por Walfran no passado, mas atualmente estamos conduzindo a advocacia da Fundação, não a defesa do padre Walfran”, explicou a assessoria.

Além disso, a Arquidiocese ressaltou que a atual administração, sob Dom Beto, tem se dedicado a reorganizar as contas e os projetos da instituição, após uma auditoria nas gestões anteriores. “Não confundam as coisas”, afirmou a assessoria, sublinhando que a Arquidiocese está em um processo de renovação desde a chegada de Dom Beto, que assumiu o comando em março de 2024, após a renúncia de Dom Antônio Muniz.

Dom Beto Breis, ao assumir o cargo de arcebispo, determinou uma série de mudanças, como a suspensão da extração de areia no Sítio Bom Retiro, na Praia do Francês, que estava sendo realizada por meio de um contrato com a empresa Mandacaru Extração de Areia e Material de Construção. O contrato, que já durava mais de uma década, foi rompido pela nova administração, que também pediu uma auditoria nas finanças da Fundação Leobino e Adelaide Motta, para esclarecer os recursos gerados pela venda de areia. Essa atividade foi alvo de críticas, pois o testamento de Lourival de Mello Motta, que doou o sítio à Igreja Católica, especificava que a propriedade deveria ser usada para fins religiosos e educacionais, e não para exploração comercial.

No entanto, o padre Walfran Fonseca, que era o diretor-financeiro da Fundação durante a vigência desse contrato, está sendo investigado pelo Ministério Público de Alagoas (MPAL). O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) investiga possíveis irregularidades nas gestões da Fundação e da Arquidiocese, em especial em relação ao uso de recursos financeiros. A investigação, que corre em segredo de justiça, já ouviu testemunhas, incluindo a contadora da Fundação, Luciana Bandeira, que teria pedido demissão após ser pressionada a ocultar irregularidades.

Além disso, o padre Walfran também responde a outras ações judiciais, incluindo uma relativa à transparência na gestão de recursos recebidos da Braskem. A empresa pagou cerca de R$ 14 milhões em indenizações para igrejas e entidades afetadas pela mineração em Maceió, e o padre Walfran é acusado de não prestar contas de parte desses valores, que teriam sido repassados à Paróquia de Bebedouro e à Casa para Idosos Luiza de Marillac.

Em abril de 2024, a Arquidiocese ingressou com uma ação judicial para cobrar explicações do padre Walfran sobre o uso de aproximadamente R$ 3 milhões da Fundação Recriar. Esses recursos foram destinados a projetos sociais voltados para o acolhimento de dependentes químicos e pessoas em situação de rua, mas a Arquidiocese afirma haver dúvidas sobre a execução desses projetos. A petição da Arquidiocese solicita que Walfran e o conselheiro fiscal Ronnie Rayner Teixeira Mota apresentem relatórios financeiros detalhados e justifiquem o uso dos recursos.

O padre Walfran, por sua vez, nega as acusações e afirma que todas as suas atividades foram auditadas e registradas de forma transparente. Em uma entrevista à mídia local, ele se disse surpreso com as alegações e apresentou documentos que, segundo ele, comprovam a regularidade das prestações de contas. “Sempre conduzi minha vida com ética e responsabilidade”, afirmou Walfran, destacando que todos os convênios sob sua gestão foram submetidos ao Sistema Federal de Operação dos Convênios (Sincov), o que garante a transparência na utilização de recursos públicos.

Apesar das defesas apresentadas pelo padre Walfran, a Arquidiocese continua questionando a aplicação dos recursos e mantém a ação judicial em curso para obter explicações detalhadas sobre a destinação dos valores. A situação reflete o processo de reformulação da Igreja em Maceió, que busca reorganizar suas finanças e garantir maior transparência na administração dos recursos destinados a projetos sociais.

A investigação e as ações judiciais relacionadas a Walfran e à Fundação Recriar seguem em andamento, e as partes envolvidas aguardam os desdobramentos legais, enquanto a Arquidiocese de Maceió reafirma seu compromisso com a moralidade e a ética nas gestões das suas entidades.

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